A partir do momento que a criança passa a ler de forma fácil, espontânea, fluente e automática, consegue focar na compreensão dos níveis mais profundos de significado para chegar ao sentido geral do texto.
Entretanto, para que a criança consiga progredir na aquisição dos conteúdos acadêmicos é necessário que ela construa uma representação mental do texto além de simplesmente relacionar as frases entre si. Nesse estágio o escolar atinge uma fase superior da aprendizagem em que deixa de "aprender a ler" para "ler para aprender" (Miranda-Casas, Fernández, Robledo e García-Castellar, 2010). Essa compreensão leitora mais profunda envolve fatores interdependentes e capacita o leitor a ampliar a sua visão de mundo.
Quais são esses fatores e como isso se dá?
Algumas condições anteriores são fundamentais para que toda essa evolução ocorra de modo satisfatório: a capacidade para receber e processar os estímulos externos adequadamente; boas condições cognitivas que permitem o reconhecimento, o pensamento e apropriação das informações recebidas; as vivências e a exposição à língua que permitem ao indivíduo integrar-se ao seu meio.
Assim sendo, a compreensão leitora depende de condições internas e externas. A primeira envolve o fator linguístico e o fator cognitivo, e a segunda, o fator social.

Começaremos pelo fator linguístico. Muito provavelmente vocês já sabem algo sobre este assunto. Mas qual a relação com a compreensão leitora? O que de fato envolve?

O fator linguístico compreende competências que se iniciam pelas capacidades de percepção e segmentação das palavras em sílabas e em fonemas, de entonação e de ritmo. Seguidamente, o foco está na palavra, em sua estrutura e nos mecanismos de flexão, além da classe gramatical a que pertence. Parece difícil? Vejamos: a palavra GATO é um substantivo masculino que pode se transformar em gata, gatos, gatinha, gatuno. Posteriormente, focaliza a frase considerando o limite (início e final), e todos os processos de construção envolvidos, por exemplo: O gato malhado pulou do telhado/ As gatas malhadas pularam do telhado. Vocês conseguem imaginar essa mesma frase escrita assim: Gatas as pularam malhada telhado do? Observem que é preciso uma sequência e concordância das palavras nas frases para que esta tenha um significado. Lembramos de que existem outras formas muito mais elaboradas de como essa relação acontece.
Por último, o foco está no "vocabulário mental", cujo sentido vai ser construído na inter-relação entre o texto, o conhecimento anterior sobre o conteúdo lido e o significado das palavras. Exemplo: para a compreensão da frase: O gato malhado pulou do telhado, é necessário o conhecimento do termo "malhado" significando um gato com manchas, diferente do termo "malhado" relacionado àquele que se exercita.

Vamos agora ao fator cognitivo:
A consciência linguística como um todo, que abrange todas essas competências citadas, no entanto, depende da memória, do monitoramento e da capacidade de inferência que são as competências relacionadas ao fator cognitivo. O monitoramento exige atenção, direcionamento da ação, flexibilidade de pensamento e capacidade de manipular as novas informações e relacioná-las com o conhecimento prévio. Durante a leitura, o leitor hábil vai comparando as informações obtidas através do texto com as informações já existentes em sua memória, desenvolvendo, assim, um raciocínio. Esse processo é chamado de inferência, e é através dele que se faz a ligação das ideias dentro ou entre sentenças e parágrafos; relacionam ideias para completar informações que não estão explícitas no texto, em que o leitor adiciona seus conhecimentos e experiências anteriores e, assim vai construindo um modelo de representação mental do texto e abstrai o seu sentido geral.
Entenderam? É exatamente isso que vocês estão fazendo agora.

Passemos ao fator social:
O fator social, além dos conhecimentos anteriores do leitor e sua bagagem sociocultural, inclui o contexto social do ato de ler, os objetivos da leitura e todo o cenário em que a leitura ocorre. Envolve o propósito da leitura no momento em que ela ocorre e o texto é analisado do ponto de vista do autor e do leitor. Portanto, sofre a influência do modo como essas informações são expostas pelo autor e que determinam se o gênero é narrativo, dissertativo, descritivo, argumentativo ou expositivo, por exemplo. Também é influenciado pelo conteúdo e as suas relações internas, pelo modo como desenvolve o tema, pela ausência de contradições e pelo uso do vocabulário e suas relações através das preposições e conjunções, por exemplo, que auxiliam a associação de ideias.

O prejuízo em qualquer um desses fatores pode acarretar dificuldades significativas para se compreender um texto e pode interferir no desenvolvimento cognitivo-linguístico e no desempenho acadêmico.

Equipe Meta

Imagem: Imagem de Freepik

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